A busca constante por produtividade, eficiência e rentabilidade na pecuária brasileira a, inevitavelmente, por dois pilares fundamentais: a sanidade animal e o melhoramento genético. Esses elementos são inseparáveis da bovinocultura moderna e fundamentais para que a produção alcance o potencial máximo, aliando-se às principais tecnologias disponíveis — tanto reprodutivas quanto sanitárias. 8l5b
Quando bem integrados, sanidade e melhoramento genético tornam-se aliados estratégicos do produtor. Enquanto o manejo sanitário atua na redução da mortalidade, aumento das taxas de natalidade, melhoria da conversão alimentar e ganho de peso, o melhoramento genético potencializa a produtividade dos animais e assegura a valorização contínua do rebanho.
Os dados reforçam essa correlação. Segundo o INDEX ASBIA 2024, relatório elaborado pela Associação Brasileira de Inseminação Artificial (ASBIA) em parceria com o Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea), 20,4% das matrizes da pecuária nacional foram inseminadas. Essa parcela já compreende os benefícios da genética aprimorada na performance do rebanho. É por essa via que o Brasil se consolida como o segundo maior produtor mundial de proteína bovina e o líder absoluto em exportações, com 2,89 milhões de toneladas exportadas em 2024; crescimento de 26% em relação a 2023.
Entretanto, o sucesso não se sustenta apenas na genética. As tecnologias reprodutivas e o melhoramento genético precisam caminhar lado a lado com a sanidade animal. É por isso que o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) atua fortemente na regulamentação, certificação e fiscalização do material genético comercializado, em conformidade com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde Animal (OMSA).
A aquisição de sêmen de qualidade é etapa crítica no processo de inseminação. Os Centros de Coleta e Processamento de Sêmen (CS) seguem protocolos sanitários rigorosos estabelecidos pelo MAPA, com foco na prevenção de doenças que comprometem o desempenho zootécnico, como brucelose e tuberculose (zoonoses), além de tricomonose e campilobacteriose, que impactam diretamente a fertilidade e a saúde dos animais.
Mais do que um requisito de biosseguridade, a sanidade é condição indispensável para a plena expressão do potencial genético dos bovinos. O manejo sanitário deficiente pode gerar estresse, reduzir o apetite, ocasionar perda de peso e até provocar abortos, comprometendo a evolução genética e a produtividade do rebanho. Nesse contexto, o investimento em práticas sanitárias eficazes, como controle de doenças e parasitas, nutrição balanceada e uso de sêmen certificado, torna-se essencial para a manifestação do desempenho genético superior.
Outro aspecto é a comunicação com o produtor rural. É preciso difundir, de forma clara e ível, os benefícios do manejo sanitário e do melhoramento genético, reforçando que essas tecnologias são íveis a propriedades de todos os portes. Precisamos quebrar o mito de que o melhoramento genético é privilégio de grandes produtores. Pelo contrário: trata-se de um investimento estratégico, com retorno comprovado.
Nesse esforço, tanto a ASBIA quanto o MAPA têm papéis decisivos na promoção do uso de biotecnologias reprodutivas, atuando na fiscalização sanitária e, principalmente, levando informação técnica de qualidade ao campo. O objetivo é claro: construir soluções que atendam às necessidades reais do criador e promovam uma pecuária mais produtiva, saudável e rentável.
O Desafio 2050, que envolve alimentar uma população global de 10 bilhões de pessoas daqui a 25 anos, nos impõe uma missão inadiável. A pecuária brasileira já provou que tem as ferramentas e o potencial para cumprir esse papel. Com investimentos contínuos em sanidade e melhoramento genético, avançamos para produzir mais e melhor, com eficiência, sustentabilidade, bem-estar animal e segurança alimentar.
Marcelo de Andrade Mota é médico veterinário e diretor do Departamento de Saúde Animal da Secretaria de Defesa Agropecuária, do Ministério da Agricultura e Pecuária (DSA/SDA/Mapa).